Além de serem menos efetivas na hora de ensinar o que é certo e o que é errado, estratégias de disciplina que incluem punição física resultam em crianças mais violentas e, ainda, criam ciclos viciosos de mau comportamento (a criança torna-se violenta porque apanha e apanha como punição por ter sido violenta).
É o que indicam diversos estudos científicos como o The Fragile Families and Child Wellbeing Study, publicado em 2001, e as suas atualizações subsequentes. Nesse conjunto de pesquisas, os cientistas analisaram o comportamento de cerca de 5 mil crianças de 20 estados norteamericanos em diversas fases: nascimento, 1, 3, 5 e 9 anos.
Eles chegaram à conclusão de que crianças que apanhavam mais de duas vezes por mês aos 3 anos chegavam aos 5 mais violentas que as que não apanhavam. E as que apanhavam aos 5 chegavam aos 9 com comportamentos muito mais explosivos. Esses últimos também apresentaram deficiência no desenvolvimento do vocabulário receptivo, que diz respeito ao entendimento de entonação e melodia da voz do outro e do significado que as palavras adotam em diferentes contextos.
Outra pesquisa, de 2014, usou dispositivos de gravação de áudio dentro das casas das famílias participantes para entender quando a punição física era usada e que efeitos ela tinha. Do total, 45% das famílias em algum momento agrediram os filhos como represália a comportamentos considerados inadequados. Em geral, os tapas começavam 30 segundos depois do primeiro aviso verbal, o que os pesquisadores consideram "uma resposta impulsiva e emocional, em vez de estratégica e intencional" para resolver o problema. E mais: em 10 minutos, 73% das crianças que apanharam voltaram a ter o mesmo comportamento. Ou seja: além de ser covardia, bater não funciona.
Evidências como essas motivaram os pediatras dos Estados Unidos a atualizar suas diretrizes para que elas contenham oficialmente a declaração de que bater em criança não é um método educativo efetivo e não é uma conduta aceitável - nem de vez em quando. Esta publicação de 5 de novembro, diz que "os pesquisadores associam a punição corporal a um risco maior de resultados negativos comportamentais, cognitivos, psicossociais e emocionais para as crianças".
O documento reúne estudos que corroboram com a decisão de lutar para abolir o castigo físico e, ainda, indica os ensinamentos da disciplina positiva como alternativa para pais e educadores porque "estratégias disciplinares eficazes, apropriadas à idade e ao desenvolvimento da criança, ensinam a criança a regular seu próprio comportamento; as mantém longe dos mais diversos perigos; melhora suas habilidades cognitivas, socioemocionais e de funcionamento executivo; e reforça os padrões de comportamento ensinados pelos pais e cuidadores da criança".
Em linhas gerais, as recomendações indicam atentar para estes 10 pontos:
1. Lembre-se de que eles imitam: Seja um bom exemplo do que é certo e errado.
2. Crie normas realistas: Pense na idade e na capacidade cognitiva e emocional da criança antes de impor as regras de convivência para que elas não sejam impossíveis de seguir.
3. Explique as consequências: A criança precisa entender por que um comportamento não é aceitável e o que ele acarreta. Seja claro, explique com firmeza, não use chantagem e não mude de postura.
4. Ouça: Deixe que a criança conte qual é o seu problema do jeito dela e, em conjunto, raciocinem sobre a melhor maneira de resolvê-lo. A criança precisa participar da solução do problema, e não apenas executar a solução que você acha mais adequada.
5. Preste atenção no seu filho: Estar junto para enxergar os comportamentos positivos e advertir sobre os negativos é fundamental.
6. Reforce o comportamento positivo: Só estar atento para brigar quando a criança escorrega é problemático. Esteja lá para garantir que ela ouça palavras de encorajamento quando fizer tudo certo.
7. Ignore o mau comportamento às vezes: Principalmente com os menores. Quando possível, dê espaço para que a criança perceba sozinha que errou. Ela aprenderá a respeitar os seus próprios limites.
8. Prepare-se para o confronto: Resolver problemas com crianças não é a tarefa mais fácil nem mais lógica do mundo. Tenha paciência, entenda que o pequeno muitas vezes não estará de acordo com você e que isso é normal. Não brigue, converse e resolva os conflitos em conjunto.
9. Reconduza o mau comportamento: Só entender que está errado não garante que um comportamento inadequado não se repetirá. Procure comportamentos alternativos e ensine-os à criança.
10. Tire um tempo para pensar: Quando os ânimos se exaltam, às vezes é preciso afastamento. Ir para o quarto até se acalmar ou sentar na cadeirinha de pensar é uma alternativa considerada efetiva pelos pediatras americanos, mas com algumas ressalvas: avise antes de usar esse dispositivo, ele não pode ser um castigo surpresa, e modere no tempo. O parâmetro sugerido é um minuto de reflexão para cada ano de idade.