"Nunca antes na história da humanidade as mulheres criaram filhos sozinhas. Essa sempre foi uma 'função' assumida em um grupo, em tribos, como muito antigamente ou como nossos antepassados mais recentes, quando avós, mães, tias e vizinhas compartilhavam a maternidade, se ajudavam e se cuidavam." Esse foi um dos recados verdadeiros e cheios de emoção que a psicopedagoga argentina Laura Gutman deixou para a plateia do Seminário Internacional Pais & Filhos, realizado recentemente em São Paulo.

Laura (foto abaixo) falou com muita sensibilidade sobre a solidão da maternidade e sobre a carga de culpa (e cansaço!) que muitas mães carregam por não terem com quem dividir o dia a dia dessa nova fase de vida - seja do ponto de vista emocional ou material. Especialmente no puerpério, quando todas nós experimentamos profundas mudanças hormonais e afetivas. Concordo e sempre reforço: peça ajuda! É preciso que a mãe esteja bem, física e emocionalmente, para que o bebê sinta sua presença integral e mais tranquila.   

"Hoje, acabamos criando novas tribos para nos apoiarmos, como grupos de mensagens ou palestras como essas, em que compartilhamos experiências e contato", disse.   

Um tema que Laura levantou é bastante relevante, se olharmos "de fora" para o cotidiano da maioria de nós. Décadas atrás, quando a opção mais presente (e possível) na vida de uma mulher era ser dona de casa, ser mãe representava um papel importante. Na opinião de Laura, havia um reconhecimento maior desse papel. 

"Hoje, mesmo que você se apresente dizendo que é mãe de quatro crianças, muitas pessoa irão dizer: ok, mas e o que você faz? A mulher foi do extremo de não ter opções profissionais - e de vida - para ser reconhecida apenas pelo que faz, pela profissão, e nada mais", criticou a escritora.

Apesar de sermos hoje mais demandadas do que nunca como mães e profissionais, precisamos buscar o compartilhamento desses papeis. Como a própria Laura diz, o início da relação entre bebê e mãe é "um tanque de emoções", quando tudo o que o recém-nascido precisa é se sentir envolto de amor. Viver essa experiência na solidão pode ser muito prejudicial tanto para a mãe como para o bebê.