“No meu tempo criança não decidia nada” ou “antigamente criança tinha muito mais disciplina” são frases que facilmente saem da boca de muitos avós, pais e cuidadores. E elas não deixam de ser verdades. Há poucas décadas, a vida social e familiar era completamente outra e, em consequência disso, as crianças que essas dinâmicas produziam também eram diferentes.

A educadora Patrícia Betiolo, neste texto publicado no @euconverso, lembra das hipóteses levantadas por Rudolf Dreikurs e Alfred Adler para explicar esse fenômeno, e nós vamos nos ater a uma delas: submissão não é mais parte constituinte das nossas relações da forma como costumava ser.

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Mulheres obedeciam homens - pais, irmãos ou maridos - que, por sua vez, obedeciam outros homens com mais poder que eles - como seus pais ou chefes. Essa era a estrutura básica das relações familiares e profissionais até pouco tempo atrás, quando o mundo funcionava bem mais na base de uma hierarquia imposta do que hoje. Felizmente, essa situação começou a mudar.

Questões sociais como debates sobre direitos humanos, horizontalização das relações de trabalho e feminismo têm muito a ver com isso. Mulheres trabalham, têm sua independência e não precisam ser submissas aos seus pais, maridos e irmãos. Homens têm seus direitos no trabalho assegurados por lei e não precisam ser submissos a seus chefes para se manterem empregados.

Crianças veem esse comportamento pautado no respeito pelo papel de cada um - e não pela hierarquia que pressupõe submissão - e repetem a fórmula. Até aí, tudo ótimo. O problema é que boa parte das punições para os tropeços infantis ainda são baseadas na hierarquia (o grito, a palavra de autoridade, o castigo) e não no respeito (a conversa, a colaboração para a solução de problemas).

Se a criança cresce vendo o avô mandar no pai e o pai mandar na mãe por autoridade pura e simples, para ela é mais fácil aceitar um “vai fazer porque eu sou a sua mãe e estou mandando”. Mas se ela enxerga que os mais velhos usam a conversa para resolver seus conflitos, é diálogo que ela vai cobrar na hora de entender os porquês, os sim e os não que receber.

A criança, muitas vezes, não está sendo mal educada nem indisciplinada, está apenas indicando que o argumento de autoridade e o medo fazem muito menos sentido (e efeito!) do que a escuta ativa, a atenção e o respeito. Que tal escutá-la?