Muita gente que assistiu ao filme considerou Carolyn uma mãe desnaturada, Margo uma mãe frustrada e Tallulah apenas uma louca. A única mãezona óbvia é uma personagem totalmente secundária: a funcionária do conselho tutelar que está grávida do terceiro filho e ama a maternidade.

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Mas talvez não seja só essa leitura que o filme pode trazer para quem dedica quase duas horas ao enredo. Dentro de cada uma dessas personagens há tipos de mães, tipos de maternidades, medos, decepções, erros e acertos.

A mais fácil de ser vista com maus olhos é Carolyn. Ela encontra Talullah fazendo a limpeza de um corredor do seu prédio e, sem conhecê-la, diz às pressas que está saindo e que Lu deve cuidar de sua filha, uma bebê que anda sem fraldas, fazendo xixi no chão, com garrafas de cerveja na mão enquanto o diálogo acontece. Carolyn está completamente bêbada, indo a um encontro no qual pretende trair o marido e, irresponsavelmente, deixa a filha com uma completa estranha. A situação é caótica e é muito fácil entender Carolyn como uma péssima mãe e uma pessoa horrorosa - o que não é necessariamente mentira, mas também não é tudo. Mais adiante o filme revela mais sobre ela.

Tallulah, que não quer ser mãe, vai embora e leva a bebê consigo. Nasce, de maneira enviesada, mais uma figura materna problemática na história. Mas talvez Lu não seja apenas uma desequilibrada que roubou um bebê. Ela foi abandonada pelos pais. Cresceu sozinha e hoje vive sem rumo com uma van antiga para chamar de casa. Ela não suporta ver a pequena desamparada pela mãe - ou melhor: não suporta o sentimento de abandoná-la. A personagem principal se identifica com a bebê negligenciada e, por isso, foge com ela.

E é na casa de Margo, a mãe do ex-namorado, que a dupla acaba. Lu mente que a criança é neta de Margo e ganha sua confiança. Aí é hora de conhecer a terceira e última mãe imperfeita do roteiro: há dois anos Margo viu seu filho ir embora sem se despedir. Ela não tem a menor ideia do paradeiro dele e nem sabe por que ele partiu.

Com o desenrolar da história, se descobre que Carolyn só aceitou ser mãe para tentar salvar seu casamento e, ao ver a ideia falhar, se viu com uma bebê da qual não sabia cuidar, esperando aflorar um instinto materno que nunca veio. Desde antes de parir ela está completamente desesperada. Quando se vê sem a filha, admite já ter desejado que a pequena não existisse. Mas frente à culpa que sente por ser a responsável pelo sequestro e por meses de ausência, Carolyn entende finalmente o que é ser mãe.

Já Tallulah se vê desempenhando um papel atencioso, preocupado com aquela criança que acabou de conhecer. Um amor de mãe inesperado e improvável faz dela tão apaixonada que acaba abrindo mão de sua liberdade pela pequena. E Margo, a mãe que fracassou há anos, vê o filho retornar para casa e trazer com ele a leveza que lhe faltava na vida. Ela fica tão leve que termina por flutuar.

No fim, Tallulah é muito mais um filme sobre como ser mãe pode ser difícil e sobre como não há regras nem soluções mágicas do que um filme sobre o roubo de um bebê. Nas maternidades das personagens, que se transformam na narrativa, há espaço para o retrato de muitos medos, muitos problemas, muitas imperfeições que vêm, sim, junto com a maternidade. Porque mães podem até ter a força e o amor de super heroínas mas, no fundo, são só pessoas, que erram como todo mundo.

Vale o play!