O livro Bilica Chorona chegou às nossas mãos e foi amor à primeira vista. Uma história sensível, com um texto delicioso e ilustrações pra lá de lindas. A obra de Isabelle Borges conta a história de Bilica, uma menina que abria o berreiro por qualquer coisa e que, um belo dia, descobriu algo inesperado: a sua mãe também chorava.
Para quem está no Rio de Janeiro, a dica é conferir o lançamento com sessão de autógrafos, que contará com a presença da autora e também da ilustradora responsável pelos lindos traços da história da Bilica, Taline Schubach. Anote aí: é neste sábado, 22/9, na Livraria da Travessa do Leblon, a partir das 16h. Mas antes, confira o papo que batemos com a Isabelle para saber um pouco mais sobre o que aconteceu neste encontro entre Bilica e sua mãe, também chorona.
O livro conta uma história em que o fio condutor é o choro, mas, no fim das contas, dá pra dizer que ele é um livro sobre empatia, não dá?
Gostei muito da pergunta e acho que esta temática pode ser fortemente refletida a partir do livro. Entendo que o choro surge de um lugar muito genuíno de nós mesmos e o ato de chorar deixa exposta nossa intensidade de dentro. A vulnerabilidade, que pode vir acompanhada de um choro, nos humaniza. Acredito que ao acessar a humanidade do outro nos aproximamos da nossa capacidade de sentir empatia. A inspiração da Bilica Chorona veio do dia que descobri que minha mãe chorava e foi quando percebi a vulnerabilidade dela. Esse episódio foi muito importante para eu olhar minha mãe de outra maneira, certamente com mais empatia.
A gente tem falado bastante no Primi Stili sobre como ensinar empatia às crianças. A Bilica é empática ao choro da mãe logo de cara. Como educadora, você diria que essa facilidade em entender e processar as emoções dos pais existe, mesmo, ou a realidade dessa relação é um pouco mais complicada?
Entendo que o aprendizado da empatia vem da ordem da vivência, daquilo que é sentido. Acredito que a melhor forma dos pais ensinarem a empatia é exercitando sua própria capacidade de ser empáticos, sobretudo ao que as crianças sentem. Nós adultos temos dificuldade em ter empatia pelas crianças em algumas situações, achando que pode ser manha ou infantilidade, dando sem perceber um ar pejorativo ao que ela expressa. Disponibilizar atenção àquela expressividade e ensinar a criança quando ela pode utilizar outros recursos além de chorar é um lindo exercício de empatia, que, sem dúvida, ensinará muito aos filhos sobre isso. As crianças possuem uma sensibilidade muito grande e nos surpreendem muitas vezes ao compreender sobre dor e sofrimento. Se a criança está em uma situação de tranquilidade emocional, ela tem grande chance de se sensibilizar com o sentimento do outro. É claro que cada criança é um universo, mas se ela recebe e presencia durante sua vida manifestações de empatia, muito possivelmente expressará isso ao outro com mais facilidade.
A gente sabe que quando o assunto é criar filhos não existe fórmula mágica nem jeito certo, mas existe alguma dica para a hora de introduzir o assunto das emoções com as crianças?
O primeiro passo é observar as emoções do filho e questionar o que pode estar levando a reagir de determinada forma. Na mediação direta com a criança destacaria dois pontos: legitimar e reconhecer o que ela está sentindo e também ajudá-la a dar nome a esse sentimento, mostrando formas possíveis de lidar com aquilo que ela sente.
O choro de um adulto, como sabemos e fica bem claro no livro, é muito diferente do de uma criança. Na maioria das vezes não é um choro que enruga o bico porque não consegue se fazer entender, é um choro que transborda o potinho. Você acredita que é preciso (ou positivo) explicar essa diferença para as crianças?
Acredito que a diferença não está exatamente no choro ou na forma de chorar, mas nos recursos internos para lidar com os potes cheios. A criança enche seus potes com mais rapidez e muitas vezes usam o choro como “ferramenta” única para lidar com desejo, medo, raiva, ciúme, ou simplesmente a vontade de um dengo. Por isso, a importância em ajudá-la a desenvolver outras formas de se expressar, sem necessariamente mandá-la engolir o choro, como acontece com a Bilica e com muitas crianças. Nós adultos temos outras maneiras de lidar e resolver essas inquietações internas e os potes vão ficando mais resistentes e muitas vezes só recorremos ao choro em última instância. Acho que a Bilica também faz um convite aos adultos para refletirem sobre como lidam com seus próprios choros. Como podemos amadurecer nosso choro e a necessidade de recorrer a ele sem perder nossa capacidade de desaguar quando for preciso?
Com certeza há muitos, mas se pudesse dizer um único motivo pelo qual as pessoas devem ler a história da Bilica, qual seria?
Bilica Chorona representa as crianças, as que ainda o são e também as que cresceram, e convida os leitores a olhar para dentro e enxergar os potes que carregam, os choros que derramam e aqueles que engolem. A história da Bilica é, sobretudo, uma oportunidade para estar em família
com afeto e empatia.