O professor espanhol Rafael Guerrero é um grande defensor da ideia de focar o ensino infantil primordialmente no desenvolvimento emocional dos pequenos. Além disso, ele prepara os seus alunos do magistério, futuros professores, para que, quando a hora chegar, consigam orientar seus alunos no imenso mundo das sensações e reações humanas. Para Guerrero, saber lidar com a raiva, a frustração, a felicidade e tantos outros sentimentos é mais valioso para a formação de uma criança do que aprender a matéria do livro.

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A compreensão dos próprios sentimentos e a sensibilidade para notar os dos outros é uma capacidade com potencial para impactar positivamente todos os aspectos da vida de uma pessoa desde a infância. E não pense que priorizar a educação emocional é abrir mão de ensinar matemática, história ou biologia. Saber controlar a ansiedade, entender que um erro não é sinônimo de inaptidão ou conseguir se reerguer numa boa depois do banho de água fria que é uma nota baixa são exemplos de como essa visão sobre o ensino têm reflexos também no desempenho escolar tradicional, por assim dizer.

Como esse caminho da educação emocional nem sempre é fácil - muito menos óbvio! -, reunimos algumas dicas do professor e escritor para sair da teoria. Neste artigo escrito para o jornal El País, Guerrero alerta para frases que não devem ser ditas para as crianças e explica por que. Selecionamos algumas, que você confere abaixo.

1. Pare de chorar por essa bobagem, não seja exagerado.
As emoções que experimentamos no dia a dia (raiva, medo, tristeza, alegria, curiosidade) ocorrem de maneira involuntária, automática e inconsciente, motivo pelo qual não deveríamos julgar as emoções que nossos filhos experimentam. Não somos ninguém para julgar como os outros se sentem, e muito menos os nossos filhos. Comentários similares são: “Mas não se zangue por isso, não vale a pena” (como se a criança gostasse de estar zangada) ou “Não entendo por que você tem medo das formigas” (certamente a criança tampouco entende, mas o fato é que sente medo).

2. Você pode conseguir tudo a que se propuser nesta vida.
Mas por que lhes mentimos? Isto por acaso é verdade? Dizem que os provérbios populares são muito sábios, mas às vezes transmitem ideias errôneas: “querer é poder”, escutamos e dizemos muito frequentemente. Infelizmente, nem todos os nossos filhos servem para tudo e são capazes de tudo. Portanto, às vezes, por mais esforço que invistamos, não alcançamos o que queremos. Temos que tomar cuidado com as mensagens que transmitimos aos nossos filhos, porque nelas estão criptografadas nossas expectativas sobre eles.

3. Aprenda a fazer as coisas por você mesmo, porque eu não vou estar aí a vida toda para te ajudar.
É verdade que não vamos estar a vida toda atrás dos nossos filhos. Queremos que sejam os mais autônomos possíveis nos diferentes âmbitos da vida, mas tudo exige um tempo. Faz aproximadamente um ano eu estava numa festa de aniversário infantil com meu filho quando uma menina pequena caiu no chão e começou a chorar. Todos os pais foram acalmar a menina. Bom, todos menos os pais dela. Lá de longe, se aproximavam lentamente dizendo: “Deixa ela, em algum momento terá que se virar sozinha”. Esses pais estão certos; em algum momento, mas não agora, com 3 anos. Portanto, dotemos nossos filhos de ferramentas, destrezas e habilidades para se comportar com eficácia nos diferentes conflitos e contratempos, para que em um futuro eles mesmos fazerem isso de maneira autônoma.

4. Meu filho, você incomoda qualquer um.
A tarefa de ser mãe e pai é tremendamente complicada. Além disso, exige muito tempo, dedicação, carinho e geralmente só vemos os resultados alguns meses depois e, em algumas ocasiões, alguns anos. Às vezes não damos conta de tudo o que temos que fazer. Nosso filho está nos pedindo ajuda na lição de casa ou para brincar com ele e diante de um momento de bloqueio nós explodimos: não aguento mais! Essas reações são normais, mas devemos evitar culpar a criança, porque ela não tem culpa, só pede atenção como o resto das crianças.

5. Se você não passar na prova amanhã, não vai ao aniversário do Pedro.
Você pode imaginar que, por ter sido infiel ao seu marido/esposa você foi demitido do trabalho ou sua carteira de motorista foi apreendida? Surrealista, não é? É o que fazemos constantemente com nossos filhos. As consequências do meu comportamento em uma área específica da minha vida (por exemplo, a escola) não devem afetar outras áreas igualmente importantes (por exemplo, o âmbito social). Por essa razão, devemos guardar cada coisa em sua caixa como se fossem compartimentos estanques. O que acontece na escola, tanto de bom quanto de ruim, fica na escola. E o que acontece em casa, fica em casa. Portanto, não castigue seu filho impedindo-o de sair ou de ir a um aniversário por ter sido reprovado em uma prova.