Kate Parker fez sucesso mundial quando lançou o livro Strong Is The New Pretty. Nele, a fotógrafa mostrou meninas valentes, cheias de criatividade e inteligência e exaltou tudo o que as meninas são para além do estereótipo das princesinhas. 

Agora, Kate lança The Heart of a Boy, um livro dedicado aos meninos.

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Ela mesma não entendia bem a necessidade de um livro sobre meninos já que, mãe apenas de meninas, só via o quão difícil era para elas crescerem em um mundo machista e tão limitador para as mulheres. 

Mas, ao apontar a câmera para os meninos, ela percebeu que eles precisam de um olhar especial sobre suas existências também.

Nós conversamos com a fotógrafa para saber um pouquinho mais desse trabalho que ela vem desenvolvendo com crianças. Confira abaixo.

Todo mundo amou o Strong is The New Pretty e fica impossível não falar um pouquinho sobre ele. Os dois livros mostram ao mundo as crianças com mais profundidade, suas personalidades, ambições e pequenas almas. O que os livros têm em comum e como são diferentes entre si?

Todo mundo deveria ter espaço para sentir orgulho de ser quem é. Essa não é uma mensagem específica para meninas ou meninos, é uma mensagem para humanos. Eu estou tentando promover uma mudança com o meu trabalho, quebrar paradigmas, alterar expectativas e o jeito que a gente vê meninos e meninas. É um bom começo. A mensagem do meu trabalho, no fundo, é sempre a mesma: você é importante do jeitinho que você é.

A masculinidade tóxica é um tema que vem ganhando holofotes. Como você entende que ela está presente na vida desses meninos e como você acredita que a fotografia pode ajudar nesse contexto?


A nossa ideia de masculinidade é muito ultrapassada. Seja homem, homem não chora. Não é nada saudável. A vulnerabilidade, a doçura e a suavidade que eu admiro nos meninos que fotografei não é aplaudida com tanta frequência. Eu quero que os meninos saibam que eles podem ser corajosos e fortes e vulneráveis e doces ao mesmo tempo. Que uma coisa não exclui a outra. Que, assim como as nossas meninas, tá tudo bem ser exatamente quem eles são lá no fundo - e mais que tudo bem: quem eles são lá no fundo é algo a ser celebrado. A gente tem que redefinir as expectativas colocadas sobre os nossos meninos da mesma maneira que estamos fazendo com as nossas meninas. Eu queria que as minhas fotos ajudassem a expandir essas definições do que é ser menino ou menina.

Qual é a história ou a foto que merece destaque especial neste novo livro?

Eu amei fotografar a família Cassidy. Três meninos que estão viajando com a mãe de carro pelos Estados Unidos há um ano, vendo e experimentando de tudo. Eu fiquei muito impressionada com todos eles. É preciso muita coragem para decidir viver a vida de uma maneira tão fora do convencional. Eu amei que eles decidiram fazer isso tudo e que quiseram dividir isso comigo. Amei conhecê-los um pouquinho e aprender a cantar com os meninos - todos eles são surdos. A mãe também. Ao conhecer essa família eu pude me admirar com a coragem deles mas também apreciar a maneira como eles estão expandindo as definições do que é criar uma família.

O que há de mais poderoso em fotografar crianças?

Eu amo a honestidade deles e a disposição de serem muito verdadeiros. Pra eles é muito fácil ficar na frente das câmeras. Eu amo isso!

Qual foi a maior lição que você aprendeu com The Heart of a Boy?

Uma coisa que me surpreendeu muito foi que, a todo lugar que eu ia, toda palestra que eu dava, toda sessão de fotos que eu fotografava, alguém acabava perguntando quando eu ia fazer um livro sobre meninos. Enquanto eu fotografava as meninas para o Strong Is The New Pretty, os filhos dos meus amigos perguntavam  "você não quer me fotografar também?" ou "quando você vai fazer um livro sobre a gente?". Eu sempre mudava de assunto e pensava "isso não é o que eu faço". Na minha cabeça, eu não podia abandonar as meninas.

Então, quando a minha editora me fez a mesma pergunta, eu imediatamente disse que não. A feminista em mim ficava às vezes brava, às vezes confusa. Na minha cabeça, estava tudo bem com os meninos. Eram as meninas que precisavam de voz. A voz dos meninos já era ouvida e não precisava de nenhum tipo de amplificação. Eu fiz um livro sobre as meninas, ponto final. Eu não via necessidade em falar sobre os meninos. Não imaginava que os meninos tinham essa necessidade de aceitação dos seus pequenos eus. Eles estavam numa boa, as meninas é que estavam passando por maus bocados.
 
No fim, eu relutei, mas aceitei fazer. E aceitei pensando que eu voltaria pra dizer: eu tentei, mas não funcionou. Não há necessidade de fotografar meninos. Vamos publicar um segundo livro sobre meninas.
 
Mas assim que comecei a fotografar, entendi como eu estava errada. Sou mãe de menina e nunca tinha passado tempo de verdade com meninos. Fui tomada muito rapidamente pela variedade e pela profundidade de sentimentos que os meninos estavam dispostos a dividir comigo.