Os livros são uma ótima forma de ampliar o repertório das crianças, de palavras, mas também de universos, ideias e realidades. A seguir, compartilho uma seleção que achei muito interessante, feita pelo site Garimpo Miúdo, com livros com protagonistas meninas, para crianças já alfabetizadas. Entre no clima desses títulos, que mostram que as meninas podem chegar onde desejarem. Confira:

Reinações de Narizinho

Reinações de Narizinho Emília, de Monteiro Lobato, apareceu pela primeira vez em 1920, no livro “A menina do narizinho arrebitado”, e ganha corpo em 1931, quando foi publicado “Reinações de Narizinho”, continuação ampliada de seu precursor. A faladeira e atrevida boneca Emília eternizou referenciais fortíssimos de desobediência civil, liberdade e contravenção. Engolir uma pílula falante do Doutor Caramujo já era fantasia demais para o ambiente moralizante, realístico e altamente escolarizado em que o livro infantil surgiu, mas a partir do momento em que a boneca Emília recebe mais visibilidade do que a própria Narizinho, que dá título ao livro, algo se transforma para sempre no paradigma social de representação feminina. É com a voz dela que o autor faz as suas reclamações sobre a sociedade.


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Píppi Meialonga

A sueca Astrid Lindgren escreveu Píppi Långstrump (no Brasil, traduzido como Píppi Meialonga) em 1945, para presentear a filha de 10 anos que estava doente.
Nada usual para a época em que foi criada a personagem, Píppi é uma garotinha de nove anos que não tem pai e nem mãe e que fala de si mesma sempre em tom altivo e seguro. “O mundo é cheio de coisas que estão esperando para serem encontrados”, ela diz.

Píppi vive somente na companhia de um cavalo e um macaquinho; cozinha sua própria comida, faz suas próprias roupas, bota policiais para correr, enfrenta meninos mais velhos e valentões, não dá ouvidos a nenhum conselho de adulto e fala o que dá na cabeça. Píppi representa a gênese de uma infância que considera meninas e meninos igualmente capazes, e foi um decisivo divisor de águas na história da representação da criança, oferecendo novíssimos e libertários referenciais do que é ser menina. 


Matilda

É com este livro que o aclamado Road Dahl consegue elevar ao grau máximo o desejo de retratar a criança como um ser autônomo, completo e capaz. A personagem é filha de pai e mãe que só valorizam o filho homem e não dão atenção para nada relacionado a ela. Proibida de ler e escrever, Matilda passa a frequentar a biblioteca para buscar o que lhe era negado. Os adultos são representados ela forma de ver das crianças – quase sempre impacientes, sem trato com os pequenos e um tanto cegos e tolos. Nesse cenário, uma personagem como Matilda revoluciona a imagem da criança como um ser dependente do adulto: ela é astuta e superdotada em um mundo onde ninguém repara em suas habilidades. Matilda rejeita os planos que fazem para o seu futuro, e cria ela mesma seus próprios modos de estar no mundo.


Procurando firme

Ruth Rocha conta a história de uma princesa diferente das outras por um único motivo: ela não quer ser princesa. No lugar de ficar no castelo e esperar pelo príncipe, ela quer sair para conhecer o mundo. Até mesmo seu nome, “Linda Flor”, faz parte da intenção da autora de ironizar a imagem da mulher delicada e dócil, ao mesmo tempo em que apresenta para o pequeno leitor um recorte do pensamento feminista. Todo composto na forma de um grande diálogo com quem está lendo e cheio de metalinguagem, o livro retoma a tradição oral dos contos de fada para questionar padrões diversos – da mulher, da família, do próprio conceito de cultura e intelectualidade.

Linda Flor é uma antiprincesa, questiona não só os porquês de corresponder à imagem que a sociedade faz de uma menina, mas também as referências européias normalmente associadas às princesas dos livros infantis. 



Malala, a menina que queria ir para a escola

Malala, a menina que queria ir para a escola. A protagonista deste livro é real, quase foi morta por querer ir à escola, mas por um misto de desobediência civil e resistência e uma porção considerável de sorte (em 2012, um atentado em seu ônibus escolar por pouco não tirou a sua vida), ela tem hoje 19 anos e continua na luta pela educação de meninas em seu país.

Malala nasceu no vale do Swat, no Paquistão, um lugar dominado pelo grupo extremista Talibã. Um lugar onde música e literatura são proibidos, onde o nascimento de um filho homem é festejado enquanto o de uma menina não é sequer anunciado, onde as mulheres não podem andar nas ruas e somente meninos podem frequentar a escola. Então, armada somente com seu discurso incisivo sobre a democratização do ensino, Malala resolveu encampar uma luta incansável pelo direito a uma educação de que seu país a privava.