A maioria das pessoas tem uma certa tendência a supervalorizar pelo menos parte dos feitos dos filhos. Vangloriar-se do quão cedo o pequeno aprendeu a falar, andar, contar... até o surgimento do primeiro dentinho pode ser motivo de aplausos um pouco exagerados.

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Para alguns pais, no entanto, fica impossível não surpreender-se com as habilidades das suas crianças. É o caso de pequenos que tocam instrumentos musicais, fazem operações matemáticas complexas e aprendem xadrez antes dos quatro anos de idade, por exemplo. O problema é que, geralmente, essa genialidade inata é vista apenas pelo lado positivo, mas há muito mais sobre os prodígios do que talentos adultos em mini-corpos.

“Como pais de crianças com severas limitações, pais de crianças excepcionalmente talentosas são responsáveis por jovens que estão além da sua compreensão”. Essa frase é de Andrew Solomon, pesquisador que dedicou anos a conhecer a vida de famílias com filhos que apresentam marcadores de diferença expressivos em relação aos pais (são 10 marcadores diferentes, entre eles a síndrome de down, o autismo e a superdotação). As crianças que não são como seus pares e também não são como os adultos precisam de atenção e cuidado, e, no caso dos superdotados, é preciso lembrar que isso não significa apenas holofotes e elogios. Até porque, como lembra Solomon no livro Longe da Árvore, muitas vezes os super talentos vêm acompanhados de condições médicas como a síndrome de Asperger, que precisam de tratamento e não podem ficar eclipsadas pelo efeito colateral de darem à uma criança habilidades surpreendentes.

Um comportamento recorrente entre pais de crianças extremamente talentosas é o de valorizar apenas o super poder do pequeno, esquecendo que trata-se de uma criança, com suas infantilidades e necessidades afetivas e sociais. Solomon conta sobre uma menina que, aos sete anos, disse à mãe que queria trocar o violino pelo piano.
 
Em confidência ao pesquisador, ela confessou o por quê do pedido. Não tinha nada a ver com uma nova paixão: “eu só queria sentar”. Outra história que faz parte do livro é também sobre uma criança superdotada musicalmente. Durante a entrevista com o autor, a pequena era interrompida pela mãe, que respondia todas as perguntas por ela e não a deixava sequer optar por que músicas tocar. Quando perguntada por que havia escolhido o violino, ela respondeu: porque é o som que mais se parece com o da minha voz. Para Solomon, uma clara consequência do fato de não ser ouvida pela mãe.

Mas então, qual é a melhor maneira de conduzir a criação de uma criança superdotada? O autor pondera que não há nenhum tipo de consenso sobre como criar crianças “normais”, então não é surpreendente que não haja consenso sobre como criar crianças consideradas brilhantes. O livro não pretende dar respostas. Ao contrário, possibilita ao leitor o contato com diversos casos para que possa construir as suas estratégias de acordo com a complexidade da sua própria história. Com afeto e atenção ao ser humano que está além do talento, o prognóstico tende a ser bastante positivo.