A Fabiana Tucunduva é a mãe por trás do perfil @arealmaternidade - e é dela um texto emocionante que lista uma série de pedidos de desculpas para todas as mães. Depois de engravidar, ela percebeu que, sem querer, havia pisado na bola com muitas delas.
Com ajuda da Thaís Vilarinho, que é a mãe por trás do @maeforadacaixa, o texto passou por uma reedição e tomou conta das redes - é essa a versão que você confere abaixo. Nós conversamos com as duas sobre o assunto em uma pequena entrevista, que você lê ao final desta página.
Me Desculpe
Eu sei, pode parecer um pouco tarde mas acredito que é sempre muito digno reconhecer um erro. Me desculpe quando falei sobre o tamanho da sua barriga. Eu não tinha ideia de como era invasivo e completamente grosseiro falar da barriga de uma gestante.
Me desculpe quando questionei a sua escolha de parto, não sabia o quanto essa era uma decisão particular, importante e delicada para uma grávida.
Me desculpe quando achei seu choro exagerado durante a amamentação, eu não fazia ideia que era tão doloroso e difícil.
Me desculpe se te julguei algum dia por dar mamadeira, não imaginava o quanto a minha fala podia te machucar.
Me desculpe se te driblei e dei um docinho para o seu filho, não tinha ideia do quanto é terrível passar por cima da decisão de uma mãe.
Me desculpe se olhei com olhos tortos a birra do seu filho no corredor do shopping. Eu deveria ter te ajudado ao invés de ter te julgado.
Me desculpe se um dia eu falei que ser mãe é assim mesmo, excluindo o pai de um trabalho que é dos dois. A carga não é de maneira alguma só sua.
Me desculpe se de alguma forma eu me afastei, hoje eu sei como é fundamental para uma mãe ter rede de apoio. Sei que como amiga eu deveria ter dado colo e cuidado do seu bebê, uma vez que outra, para você tomar um banho, almoçar tranquila e até ir fazer as unhas ou depilar.
Me desculpe pela falta de respeito e empatia.
Acho que ainda dá tempo, me tornei mãe e com a maternidade mudei muitos conceitos. Senti na pele tudo o que você sentiu. Por isso quero me desculpar, gostaria de ter me colocado no seu lugar e entendido o que você estava sentindo. E se você que me lê não é mãe e tem uma amiga que acabou de ter bebê atenção: espero que você não precise ser mãe para perceber tudo o que ela sente e como você tem um papel importante. Mães não precisam de julgamento, elas precisam é de muito acolhimento.
Primi Stili: No texto vocês concordam que essa consciência da invasão da privacidade e da autoridade de uma mãe vem mais facilmente depois que a mulher tem seus próprios filhos, e desejam que quem ainda não é mãe fique atenta ao assunto. Como vocês acreditam que é possível para as novas mamães colocar limites no que as pessoas dizem?
Fabiana: Eu acho que é difícil colocar limites em alguém ou esperar que essa pessoa tenha esses limites com você. Acho importante você pontuar aquilo que você não gosta. Sou daquelas pessoas que não tem papas na língua. Deixo claro aquilo que não gosto, invade minha privacidade e que não me agrega. Deve ser dito, sim. Faz parte da conscientização das mulheres e até mesmo mães que somos feitas de carne e osso, nem sempre um palpite sem cuidado é bem-vindo. No começo a gente respira e releva, mas tem vezes que não tem como, temos que descer do salto e sinalizar que não é legal.
Thaís: A mulher tem que tomar conta da sua própria maternidade, e isso é algo que a gente aprende com o tempo. É importante falarmos sobre isso para que as mães que estão vindo se deem conta disso mais rápido do que a gente. Se ela ganhou um bebê, ela ela dá conta desse bebê. Se vc consegue ignorar os comentários, tudo bem. Se não, você tem que se colocar. Seja com sogra, com mãe ou com quem ainda não teve filhos. Você tem que dizer, sim: eu vou fazer da minha maneira
Primi Stili: É muito lindo (e importante!) um texto sobre maternidade, assim, incluir todas as mulheres, mesmo as que ainda não são mães. Acaba sendo um texto sobre sororidade. Vocês, particularmente, tiveram suas visões sobre as mulheres e sobre o feminino impactadas pela maternidade?
Fabiana: O perfil @arealmaternidade foi criado justamente por isso. Sentia falta do empoderamento, do feminismo e da sororidade na prática. Eu tive que me tornar mãe para entender mais ainda sobre isso e sentir na pele. Todos meus textos e vídeos falam sobre isso, sobre irmandade, união e conscientização sobre a importância de darmos as mãos, que juntas somos fortes. A maternidade nos transforma e nos deixa solitárias, nos enfiam dentro de caixas. Por isso acho importante não só fazer textos como esse, mas acolher mulheres e fazer delas mais empoderadas. Esse é o trabalho que faço e farei até quando eu puder
Thaís: Tive minha visão sobre mulher e feminino profundamente impactada pela maternidade. Quando a gente vira mãe, ninguém fala sobre isso, mas a gente lida com a própria sombra. Se conhece profundamente e dá de cara com a nossa fragilidade e, também, dá de cara muito profundamente com questões do machismo. Me considero muito mais feminista hoje do que antes da maternidade. Você se compadece mais da dor da outra. Hoje eu sei o quanto ter um filho demanda de tempo e responsabilidade. E eu acredito que a união entre mulheres e as redes de apoio são a nossa salvação. É o que vai fazer a gente conseguir se fortalecer cada vez mais.