Já faz dois anos que a editora Lago de Histórias se afirma como uma importante presença no mundo dos livros infantis brasileiros. O último lançamento do selo, Meu querido Vovô Romano, de Thaís Velloso, é um exemplo da curadoria sensível que só uma especialista como Helena Lima, idealizadora da Lago, professora e autora infantil, poderia ter.
Conversamos com ela para saber um pouco mais sobre essa vida de fazer livro para criança, a importância de criar leitores de qualidade (e como chegar lá!), paixões e realizações. Confira!
O que fez você trocar a sala de aula pelo empreendedorismo editorial?
O que me seduziu foi a paixão pela literatura e as possibilidades infinitas de um leitor com um livro nas mãos. Ler e escrever são atos muito libertadores. A sala de aula me despertou a sensibilidade para perceber aquilo que os jovens mais carecem. Além de me mostrar o que mais os atrai. Unir meus dois maiores talentos poderia ser algo extremamente assertivo. Empreender também é uma arte, assim como escrever, educar e editar. Investir em educação e cultura é a minha maior contribuição para o mundo nessa vida.
Qual o maior desafio do mercado editorial infantil brasileiro hoje? E a maior satisfação de trabalhar nele?
Acredito que o grande desafio seja o mesmo de sempre: formar leitores desde a infância. E leitores de literatura! Não é todo livro infantil que pode ser chamado literário. A questão é que, muitas vezes, a pessoa que faz a escolha e a mediação entre o livro e o leitor em formação, não sabe escolher um livro de qualidade literária. Literatura não se faz unicamente com a intenção de agradar gostos, acompanhar tendências, modismos, futilidades. Literatura de qualidade é aquela que empurra o leitor a sair do lugar. Literatura de qualidade é aquela que traz ilustrações de qualidade, que dialogam com o leitor e abrem ainda mais o imaginário. Aquela cujo projeto gráfico é pensado junto com todo o conteúdo do livro, por especialistas que trabalham em conjunto e harmonia.
A maior satisfação é, sem dúvida, flagrar as crianças lendo, se divertindo e… indicando livros para outras crianças! E pensar que a dobradinha prazer de ler + profundidade de leitura funcionou.
Como são escolhidos os livros do catálogo da Lago?
Em primeiro lugar, para ter um livro publicado pela Lago de Histórias, há que se ter autenticidade na forma de escrever e de apresentar o texto. Pode-se falar de um assunto bastante comum e até mesmo batido, mas a forma de escrever pode trazer uma originalidade que fará com que o assunto pareça nunca antes tratado. O meu segundo critério será me ver arrebatada pelo texto. A história tem que me laçar, me surpreender, me emocionar. Como já disse, o assunto pode ser comum, mas o texto precisa ser autêntico, me torcer por dentro.
Por último, a presença da poesia ainda que na prosa. Uma prosa poética que consiga divertir e ao mesmo tempo tocar a sensibilidade do leitor é um verdadeiro míssil, atingindo o que há de mais profundo e essencial no coração do leitor.
Todo mundo sabe que ler é importante para o desenvolvimento das crianças, estimula a criatividade e faz muito, muito bem. Mas, para você, como escritora, professora e editora de histórias infantis, o que significa ensinar o hábito da leitura para um pequeno?
O papel do educador, seja ele pai, professor ou um mediador de leitura, é despertar o desejo pelos livros, a vontade daquela viagem. Eu sempre digo que alguém com menos de doze, treze ou mesmo quinze anos que afirma não gostar de ler deve dar uma chance aos livros. Com tão pouca idade, não há experiência de leitura suficiente para que um rótulo tão determinante feche todas as possibilidades deste leitor se deparar com um livro que toque o seu coração. Basta um. Se um único livro for capaz de tocar o coração desta criança ou adolescente, um mundo de possibilidades se abrirá. Portanto, o mediador deve insistir e variar a oferta. Deixar a criança trocar o livro, experimentar outro. Principalmente apresentando àqueles dos quais gosta, que são referência para ele.
Qual é o livro infantil que não pode faltar na prateleira de uma criança?
Indico um livro que marcou a minha infância: A bolsa amarela, da Lygia Bojunga.
É um livro que promove a fantasia, instiga a imaginação, desperta os sentidos, traz questionamentos, aumenta as dúvidas, desajusta as ideias, sacode as certezas, acorda as emoções, encontra poesia no imprevisível. Tudo o que um livro deve despertar no leitor, tenha ele a idade que for.