Você já se sentiu prejudicada na sua profissão depois de se tornar mãe? No Brasil, de cada 10 mulheres em idade ativa, apenas 5 participam do mercado de trabalho, como empregadas ou em busca de colocação. Mesmo que a amostra não considere apenas mulheres mães, o dado, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), referente ao primeiro trimestre deste ano, é ainda mais um agravante nas diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho depois da chegada do filho.

Quem atesta isso é a economista e pesquisadora do Insper Regina Madalozzo, que conduziu um estudo com 700 moradores de 30 bairros da periferia de São Paulo com pelo menos um filho de até seis anos. Ela descobriu algo que todas nós já escutamos de amigas ou conhecidas uma vez na vida. Muitas vezes, é só responder que se tem filhos pequenos para a tão sonhada vaga no mercado de trabalho ficar mais distante. 

No levantamento, feito em 2012 e publicado recentemente em revistas científicas, 38% das mulheres casadas que não trabalhavam disseram que gostariam de estar empregadas. Destas, praticamente metade se queixava de não ter com quem deixar os filhos e metade afirmava não conseguir encontrar emprego. Já entre as mães que não moravam com o companheiro, 34% diziam não encontrar emprego, e 23%, não ter acesso a escola ou creche. Os relatos de discriminação direta por parte dos potenciais empregadores foram predominantes em ambos os grupos entre as mulheres que disseram sentir dificuldade para encontrar uma vaga. Na contramão, parte dos homens entrevistados disse perceber alterações positivas em suas relações de trabalho depois da chegada do primeiro filho. 

"De forma geral, eles afirmam que a paternidade os fez mais responsáveis, e que os patrões perceberam e os recompensam por isso", destaca Regina.

A constatação, ela diz, é reforçada por uma série de estudos que mostram que a paternidade vem geralmente acompanhada por um prêmio salarial, enquanto a maternidade desacelera a trajetória de crescimento da remuneração das mulheres.

No caso da pesquisa brasileira, essa distinção de tratamento do mercado de trabalho refletiria em parte a dinâmica das famílias, em que as mães são as principais responsáveis pelas crianças e os pais "têm a possibilidade de escolher 'ajudar' suas mulheres com esta responsabilidade quando se sentem inclinados a isso".

"O que nos chamou atenção é que a maioria dos homens tinha consciência do quanto as mulheres trabalhavam em casa. As pessoas já sabem, o que falta é mudar (a distribuição das tarefas)", avalia a economista.

A discriminação atinge mulheres de todas as classes sociais. Mas, conforme Regina, ela é bem mais dramática entre as mães de baixa renda, que não têm a opção de contratar uma babá ou vagas em creches.