Muitas mulheres vivem na gravidez um momento de selar uma relação de amor e cumplicidade com suas próprias mães. Os laços se fortalecem, uma entende melhor a outra e o relacionamento fica melhor do que nunca. 

Com menos sorte, outras não entendem por que a maternidade não funcionou como o elo que faltava para, enfim, conectá-las às suas figuras maternas. 

Os dois cenários acontecem bastante, mas quem vive o segundo muitas vezes fica sem entender por que logo a chegada de uma característica em comum - e justo uma tão potente quanto a maternidade - acaba afastando duas mães. Neste artigo do Washignton Post, Jessica Hinton conta como acabou vendo as diferenças que tinha com a mãe aumentarem e busca a opinião de especialistas para entender por que isso acontece.

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Uma das hipóteses levantadas coloca a culpa na memória. Muitas mães recém-nascidas relatam lembrar de detalhes de suas infâncias inacessíveis antes do parto. Aos poucos, fazer as escolhas necessárias para cuidar de um bebê acaba trazendo à tona os caminhos preferidos pela sua mãe quando o bebê era você. É como se uma caixa de Pandora de memórias infantis fosse aberta, e o que sai de dentro dela deixa claro que você consegue avaliar (e criticar) melhor o jeito que sua mãe escolheu para criar você. 

Um abismo de diferenças que vocês nem sabiam que existiam se abre entre vocês duas.

O que fazer nesses casos? 

A opinião da especialista consultada por Hinton pode ajudar. Flori Willard é terapeuta familiar, e ela explica que o caminho é o da compreensão e o da confiança. Lembrar sempre de onde veio a sua mãe cultural e socialmente e tentar entender o porquê das suas ações no passado é fundamental - por mais que hoje você entenda que uma ou outra escolha dela afetaram a sua vida negativamente.

O texto traz três dicas práticas para lidar com a situação:

Deixe claro quem é a mãe. Ganhar um neto pode ser, para muitas mulheres, um gatilho que dispara o desejo de viver a maternidade novamente. E aí vêm os pitacos sem fim, que acabam sendo um ótimo combustível para brigas. Explique sempre que necessário, com gentileza, que você agradece a atenção, mas agora é a sua vez de ser mãe, e esse é o jeito que você escolheu fazer.

Façam terapia. Separadas ou juntas, como funcionar melhor para vocês. A ajuda de um profissional é fundamental para colocar o turbilhão de sentimentos que vem com a maternidade em perspectiva.

Aceite o que você não pode mudar. O passado é o passado e não há como mudar o que sua mãe fez ou deixou de fazer por você. Cabe a você entender o quanto você deixa o passado (ou o comportamento da sua mãe, que é o mesmo desde que o mundo é mundo) reabrir feridas.

Hinton termina o texto com um relato emocionante: 

"Eu considerei escrever sobre esse assunto em 2014, no meio dos meus contratempos com a minha mãe. Ainda bem que não escrevi, porque a nossa relação melhorou - e para melhor. Eu lidei com o meu luto, fui para a terapia e lidei com mais luto depois disso. Eu delineei os meus limites e aprendi a aceitá-la por quem ela é e me amar por quem eu sou e por quem estou me tornando. 

Desde o início eu só queria uma mãe que compartilhasse a minha felicidade e a minha dor nessa jornada às vezes assustadora que é ser mãe. Hoje eu consigo ver que o que eu estava procurando existia, eu só não havia encontrado ainda".