"Perdemos por causa dela", "Ah não, ela não sabe jogar", "Passar pra ela? Ela fica parada, professor"... Paulo Henrique Carmona perdeu a conta de quantas vezes já tinha ouvido essas frases de seus alunos da Escola Classe 108 de Samambaia, do Distrito Federal. Professor de Educação Física na escola da rede pública há dois anos, ele conta que quando uma menina erra durante um exercício ou brincadeira os meninos "caem matando". 

"O menino erra e os mesmos não falam nada. Até com erros mais grosseiros como fazer ponto contra ou acertar o ar numa rebatida ou chute os meninos são mais tolerantes entre si", escreveu em uma postagem no seu Facebook. E quando eles perdem para alguma menina? Segundo Paulo, sempre inventam desculpas para a derrota, nunca é porque a menina é melhor. 

Percebendo conflitos causados por conta do gênero, Paulo decidiu levar uma proposta de atividades diferente para as quadras. Assim, a turma do 2º ano passou a discutir que coisas são "de menino" ou "de menina" e a serem questionados por quais motivos achavam que jogar bola é coisa de menino e cozinhar é atividade feminina, por exemplo. Ao classificarem as atividades, a grande questão trazida pelo professor: "vocês não acham que os meninos podem ser melhores no basquete simplesmente porque treinam mais que as meninas"

"Ser menina na aula de Educação Física é ter que provar várias vezes a sua capacidade para ser respeitada", diz Paulo. E mais, segundo ele, o jogo de poderes meninos x meninas está presente em 100% do tempo. "Da liderança nas atividades a quem sentará ao lado do professor na roda. Não importa a idade, as meninas sempre largam atrás", conclui. 

A atividade proposta aos alunos entre 6 e 8 anos é uma ferramenta importante que esse professor encontrou para começar a quebrar os estereótipos de gênero na comunidade na qual está inserido. E, segundo ele, os resultados são visíveis: uma maior participação das meninas e uma tolerância maior dos meninos com elas. Os adultos do futuro agradecem esse tipo de iniciativa.