Você já foi barrado com seus filhos em algum restaurante ou hotel que não aceitasse crianças? Se isso aconteceu, saiba que você não está sozinha. Cresce no Brasil e no mundo, um nicho de espaços que rejeitam a presença de crianças, com a justificativa de garantir a tranquilidade dos demais clientes. São hotéis que só recebem hóspedes com mais de 18 anos, restaurantes onde as crianças não têm vez e até companhias aéreas com espaços reservados onde os pequenos não circulam. 

Esse comportamento deriva do movimento "childfree" - "livre de crianças" -, que existe desde os anos 80 nos Estados Unidos e no Canadá para agrupar adultos que se sentiam discriminados pela sociedade por não terem filhos. Hoje, porém, parte desse movimento childfree vai além do "não quero ter filhos" e adota o discurso de "não gosto de crianças" ou "não quero crianças por perto" e ganha corpo nas redes sociais. Discriminação ou conveniência? O que você acha disso? 



Uma matéria muito esclarecedora publicada pela BBC Brasil este mês foi atrás dos avais jurídicos dessa conduta e apurou que há diferentes interpretações jurídicas sobre o tema. A advogada Fabiola Meira, doutora em direito das relações de consumo e professora-assistente da PUC-SP, defende que o veto é aceitável se for previamente (e claramente) informado ao consumidor para não lhe causar constrangimento.

"Há quem diga que pode haver preconceito, mas acho que locais privados podem adotar um modelo de negócios para um público diferente (que restrinja crianças), com base na livre iniciativa", diz à BBC Brasil. "Não é algo contra uma raça ou nacionalidade, que seria uma discriminação."

Já Isabella Henriques, representante do instituto Alana, organização de defesa dos direitos infantis, diz que, feita a ressalva a locais que sejam impróprios por trazerem perigos às crianças, "o veto é discriminatório sim, por estar excluindo um segmento da sociedade. Abre precedentes para se excluírem também, por exemplo, pessoas com deficiência".

"O fato de um estabelecimento ser privado não o exime de ter de cumprir a Constituição, que em seu artigo 5º diz que todos são iguais perante a lei, e que no artigo 227 diz que crianças e adolescentes têm prioridade absoluta", argumenta Henriques.

De qualquer forma, vale a pergunta: será que todos aqui nascemos adultos e não lembramos como é ser criança? Enfim, sempre vale o bom senso, não é?