Você já imaginou como bonecas podem contar a história de uma guerra? No Líbano, refugiadas sírias estão bordando personagens inspiradas em pessoas reais como um pedido de paz. A venda é revertida para os cidadãos reais desses contos. Desde abril de 2016, quando o projeto começou, mais de 1,5 mil bonecas já foram vendidas em países como o Líbano, Kuwait, França e Austrália.

Intitulado “A coleção Ana” — a palavra “Ana” quer dizer “Eu” em árabe —, o projeto aborda o sofrimento oculto dos cidadãos de um país devastado pela guerra. Com linhas coloridas e imaginação, os rostos dos sírios — e sobretudo, suas trajetórias singulares — ganham forma no tecido.

“Hoje, a maioria das coisas que vemos na televisão foca na ideia de guerra na Síria”, explicou Marianne Moussali, uma das coordenadoras da iniciativa. “Muitas vezes, esquecemos que há pessoas que ainda vivem lá e que têm histórias para contar. Não é que as pessoas não se importem, mas veem uma grande guerra, não veem indivíduos.”

A iniciativa levou à criação de duas coleções — “Dentro de Alepo” e “A Coleção de Festividades”. Agora, os participantes trabalham em uma terceira coleção, “Histórias do Bekaa”, para a contar as vivências e esperanças de refugiados vivendo no vale localizado no leste do Líbano.

“Muitas pessoas compram essas bonecas para seus filhos”, afirma Marianne. “Quando uma criança carrega uma boneca chamada Hamida, seus pais lhe dizem ‘Hamida tem sua idade, ela quer voltar para casa e brincar com os amigos’. Eles se identificam com mais facilidade.”

Além de dar visibilidade às vítimas esquecidas da guerra, o projeto ajuda a criar um “círculo virtuoso de empoderamento”, diz Marianne. “As pessoas sabem que se compram a boneca Salma, elas vão ajudar a verdadeira Salma que está na Síria, que o dinheiro da venda será destinado para ela.”

O preço da boneca varia de 25 a 65 dólares, de acordo com o tamanho. As arrecadações vão para as mães e as crianças que são os protagonistas das narrativas materializadas em bordados. O dinheiro também cobre parte do custo de produção, incluindo o trabalho das 80 mulheres que participam da iniciativa no Líbano.

A etiqueta de cada boneca carrega a mensagem que Marianne quer passar todos os dias, em nome de todas as mães sírias: “Eu protejo os sonhos dos meus filhos”.

Emocionante, não é?