Você alguma vez já parou para se perguntar quanto do seu tempo pode e deseja de fato dedicar a seu filho? Pode parecer uma questão muito fria e calculista, mas, para a psicanalista Vera Iaconelli, diretora do Instituto Gerar, essa difícil indagação é peça chave para deixar para trás a eterna culpa que carregamos quando nos tornamos mãe. Eu adorei a forma como ela aborda esse tema nessa entrevista ao blog da escritora Rita Lisauskas. Sem julgamentos e com bastante empatia com "as várias formas de ser mãe", Vera não "vende" fórmulas prontas e nos convida a refletir e mergulhar na mãe que cada um de nós pode ser. Vem ver alguns trechos dessa entrevista:

Estar sempre com os filhos | O que é possível realmente para os pais e para cada família específica? Porque, às vezes, os pais criam um mundo ideal, no qual não haveria trabalho, não haveria outras obrigações e tampouco outros desejos e no qual eles deveriam estar sempre disponíveis para os filhos. Menos do que este ideal parece para estes pais como negligência. Para começar, estar sempre com os filhos não é o melhor para os filhos, exceto quando recém-nascidos e, ainda assim, são necessárias algumas pessoas se revezando nesta tarefa. Então pensemos que cabe aos pais introduzir os filhos no estilo de vida possível para eles e dentro da realidade do mundo em que vivemos.

Poder e desejar |  Quanto tempo eu disponho realmente para estar com meus filhos entre trabalho e obrigações incontornáveis? Segundo, mas não menos importante, quanto tempo eu desejo estar com eles, porque bons pais e mães têm, necessariamente, outros interesses pessoais. Essas respostas são individuais e devem ser dadas com o máximo de sinceridade para que o encontro com os filhos não seja uma mera formalidade ou obrigação. Por outro lado, temos pais que perdem tempo buscando prover filhos de bens que eles trocariam de bom grado por uma família com maior intimidade. 

Tempo de qualidade | Também cabe perguntar o que chamamos de “tempo de qualidade”? Será que significa se dedicar inteiramente ao filho, enquanto estamos juntos? Essa resposta depende da idade e vai se modificando ao longo dos anos, mas uma dica é: estar disponível não é estar o tempo todo fazendo coisas com as crianças. Por vezes, estar disponível é a criança saber que, se ela precisar, você estará lá, embora não o tempo todo.

Home office |  Estamos obcecados pelo trabalho, leia-se, pelos bens de consumo que o trabalho acessa e o prestígio decorrente. Estamos também obcecados por uma parentalidade irreal. Mesmo quando as mulheres ficavam em casa e os maridos voltavam cedo para casa, não se ficava à disposição dos filhos. É interessante essa ideia da importância que os pais dão pra si mesmos na vida dos filhos. O recomendável, se é que existe, vai na direção da autonomia da criança, da oferta de experiências no mundo e não de um fechamento familiar em si mesmo.

Igualdade de papeis | A criança precisa de sujeitos muito investidos em cuidar delas, que as amem, respeitem, responsabilizem-se, eduquem. Quem puder fazer isso ostensivamente ao longo da vida de outro ser humano leva o título, digamos, o ônus e o bônus da função parental. Esqueçam essa disputa de pai e mãe. Precisamos de outros humanos com as incríveis competências acima.

Profundas reflexões, não é?