O movimento de elogiar constantemente as crianças sobre suas conquistas ganhou bastante força, de maneira geral, nos anos 1980 e 1990. O objetivo não poderia ser mais nobre: criar pessoas com boa autoestima.

Encorajar os pequenos com frases positivas que enaltecessem suas vitórias apareceu como uma maneira óbvia e carinhosa de chegar lá. Talvez por isso a ideia de que um elogio possa fazer mal à autoestima da criança pareça chegar perto do absurdo. 

Mas, aparentemente, tem um fundo de lógica e outro de verdade nessa afirmação. A chave da questão está no tipo de elogio.


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Carol Dweck, professora da Universidade de Stanford (EUA), conduziu um experimento para esclarecer onde mora o problema. Ela dividiu 400 alunos do quinto ano em dois grupos: os que seriam elogiados por inteligência e os que seriam elogiados por esforço. Todos os alunos fizeram quatro testes. O primeiro foi de nível fácil e todos saíram-se bem. Pelo resultado, foram elogiados da seguinte maneira:

Grupo 1: Parabéns! Você deve ser muito inteligente para ter conseguido este resultado!
Grupo 2: Parabéns! Você deve ter se esforçado bastante para conseguir este resultado!

A diferença é sutil, mas o comportamento dos grupos e os resultados que atingiram nos testes posteriores deixa clara a importância do detalhe. 

Para o segundo teste, as crianças tiveram de escolher entre uma prova mais difícil, que daria a oportunidade de aprender um pouco mais e crescer, ou um teste fácil como o anterior, no qual eles certamente se sairiam bem. Do grupo elogiado pela inteligência, 67% escolheram o mais fácil. 

Dos elogiados pelo esforço, 92% escolheram o mais difícil.

A teoria da professora explica que a criança elogiada pela inteligência entende do adulto que é a inteligência que a torna brilhante e é por isso que ela é admirada

O medo de decepcionar essa imagem talentosa cria na criança a tendência de limitar-se a tarefas que desafiem menos e que diminuam as suas chances de falhar - o que, por outro lado, restringe as suas possibilidades de evoluir e aprender. 

Já elogiar pelo esforço transmite a ideia de que tudo faz parte de um processo e de que ir além é possível. Se não der certo, tudo bem. Você tenta de novo com outra estratégia. 

Ou seja, o medo do fracasso frente a cada um desses elogios tem sentidos diferentes: um faz de você uma pessoa não inteligente e não admirável, o outro faz de você uma pessoa que precisa dedicar-se e aprender um pouco mais para superar o desafio.

O terceiro teste era praticamente impossível, difícil demais para os pequenos, e a pesquisadora sabia disso. O foco era a chance de avaliar o comportamento das turmas frente à dificuldade. 

Os elogiados pelo esforço insistiram em resolver o teste por mais tempo, enquanto os elogiados pela inteligência tiveram propensão a desistir rapidamente.

Logo depois desse fracasso induzido, os alunos fizeram um último teste, com o mesmo nível de dificuldade do primeiro: fácil, fácil. Os que foram elogiados pela inteligência tiveram pontuação 20% menor do que no primeiro teste, enquanto os elogiados pelo esforço tiveram resultados 30% melhores.

A reflexão que o estudo propõe é sobre a maneira como elogiamos as crianças e o que, efetivamente, esses elogios estão dizendo sobre elas - e sobre nós. 

Primi Stili acredita que o assunto rende um ótimo bate papo em família e pode até ser uma das discussões propostas na próxima reunião de pais. Que tal?