Um dos momentos que mais nos enchem de dúvidas é quando o bebê deixa de mamar e começa a comer outros alimentos. O que oferecer, quando, de que forma, o que é proibido? É nessa hora que chega uma avalanche de conselhos de amigas, do Google, de artigos e revistas, além, é claro, das orientações do pediatra. A introdução alimentar é a porta de entrada de um mundo novo — fundamental para a nutrição infantil, um tanto assustador para o universo dos adultos.

Por falta de certezas, a proibição foi sempre a regra. Mas, nos últimos anos, os avanços no conhecimento da fisiologia dos bebês provocaram uma reviravolta. Adeus às restrições exageradas. Já não é preciso apelar para papinhas de cores pálidas (embora seja inegável o zelo com que esses alimentos são elaborados e sua praticidade). “Hoje sabemos que o bebê pode ter uma dieta praticamente igual à dos pais”, disse Virginia Weffort, presidente do departamento de nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, em entrevista à revista Veja.

Claro que isso se refere a alimentos saudáveis - seja para adultos ou para bebês, mas com os pequenos é preciso ter ainda mais cuidado. Alimentos industrializados devem ser restringidos na dieta de qualquer pessoa, e com as crianças não é diferente. Frutas, legumes, todas as carnes, grãos e carboidratos bons podem sim fazer parte da alimentação do bebê.

Trabalho publicado em 2015 pela King's College, de Londres, por exemplo, contradisse as proibições relativas ao amendoim, considerado alérgico para crianças. Testes feitos com crianças de 4 meses que consumiam o alimento mostrou que elas tinham 3% de risco de desenvolver alergias, contra 17% das crianças que não comiam amendoim. A conclusão é que o contato precoce com o alimento estimula o sistema imunológico a assimilar as proteínas responsáveis por alergias e, dessa forma, evita a reação. 

Rita Lobo, que acaba de lançar um livro sobre o assunto ("Comida de Bebê - Uma introdução à comida de verdade"), diz: "Agora, a introdução alimentar de um bebê pode ser tão simples e natural a ponto de influenciar a dieta da família toda, deixando-a mais saudável e prazerosa". Até o fim deste ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria atualizará seu guia alimentar para crianças, ressaltando a troca do suco por frutas em pedaços, por exemplo. Nessa nova linha de pediatria, recomenda-se que o bebê manuseie a comida livremente, com as próprias mãos.