Difícil, como mãe, não experimentar, um dia, a sensação de que é preciso muitos braços, muita tecnologia, muitas atividades para entreter o filho, enchê-lo de horas felizes e produtivas, sem tédio e sem frustrações, não é mesmo? Quantas vezes já me peguei em aflições como essa? Nossa. Várias. E por isso fiquei emocionada ao ler esse texto aqui, da Mariana Sá, cofundadora do Movimento Infância Livre do Consumismo (Milc). No post, publicado no site do Milc, Mariana, que é publicitária e mãe de dois filhos, divide com os leitores as dificuldades em empreender uma tarefa que considera crucial: ensinar seus filhos a brincarem sozinhos. Isso mesmo. Sozinhos! Será que eu estou ensinando a Donatella a se entreter sozinha? E você? Já pensou sobre isso? 

"Inicialmente tendemos para o caminho mais fácil: fazer um bebê gostar de tevê é infinitamente mais fácil do que de ficar sozinho sem estímulo externo algum. Entendo quem faz esta opção: tenho dois filhos e ambos adoram uma tela desde bebê. Sei que a tevê é muito mais prática do que qualquer atividade que requer espaço limpo e seguro além da escolha e preparação. Sei bem que parece mais bacana ligar um botão e colocar a criança diante da tela, mas os prejuízos chegam mais na frente. Com alguma dedicação diária, em pouco tempo, a capacidade e o prazer do bebê em brincar sozinho e de se concentrar numa mesma atividade por mais tempo vai crescendo; e se estiver diante de uma tela, nem a adulto, nem o bebê vão perceber isso. Carregará por muito tempo o estigma de ser uma criança que não sabe brincar e que não consegue se concentrar. E passará a infância sabendo se autocontrolar e manter-se quieto apenas diante de uma tela, alienando-se.", escreve Mariana.

O mais legal do material compartilhado pela publicitária são as dicas práticas para tentar obter um relativo sucesso nessa empreitada. Dicas testadas por ela ao longo de nove anos de maternidade. Fiquei muito encantada e compartilho algumas aqui com quem quiser se aventurar nessa tarefa. Eu vou começar já!

É assim:

– Inicie uma brincadeira com a criança, sentada ao lado, algo que o bebê goste. Aproveite para se divertir. Em seguida, ainda ao seu lado, observe-o brincar, interagindo cada vez menos, para que o bebê aprecie a própria capacidade criativa. Com o tempo use o tempo de não interação para fazer algo para você, como passar mensagens, fotografar, tirar poeira em algum móvel próximo… uma coisa só por vez e volte a interagir.

– Entre um e dois anos, o tempo de concentração é mínimo, então a brincadeira precisa mudar, algo precisa entrar na roda para manter a concentração. Muda cacique! Daí avise que vai pegar outro brinquedo e se afaste. Sempre verbalize o que estão fazendo e o que pretende fazer. Volte em pouco tempo (30 segundos, 1 minuto) com algum brinquedo, sente de novo e brinque.

– A cada dia, pratique o afastamento mais vezes durante a brincadeira. A cada vez fique mais tempo (adicionando segundos a cada novo afastamento).

– Óbvio que não vale deixar chorar. Nunca! Hora nenhuma! Se chorar, explique que o que foi fazer e enfatize que você sempre volta. Fundamentar legitimar os sentimentos do bebê: é legítimo não querer que a mãe se afaste (saiba disso!), não é bobagem, não é para irritar, não é dengo. É legítimo!

– O segredo é alternar tempos de interação com tempos de não interação: ela não vai te dar uma hora sem interrupção. Ajuste a sua expectativa: óbvio que nunca nenhuma brincadeira vai render o tempo que a tela rende, a capacidade de concentração do brincar é menor. O ganho é em saúde mental a longo prazo, não em minutos.