A brincadeira tem papel fundamental no desenvolvimento de toda criança. Ela ajuda a praticar várias capacidades - inclusive a de superar tristezas e perceber esses momentos como transitórios. 

Para isso, é importante que a criança tenha com quem brincar, sem estar vigiada por adultos ou ter a interferência dos mesmos para resolver seus problemas (ou para se sentir culpada).

Doutor em Filosofia e Psicologia, o psicanalista argentino Luciano Lutereau, pesquisador e professor da Universidade de Buenos Aires, afirma que a melancolia sempre esteve associada à infância, mas reconhece que hoje essa condição se faz mais presente. 

O autor do livro O idioma das crianças lamenta que a brincadeira perca espaço para passatempos que são simples entretenimento, como videogames e outros atrativos tecnológicos, o que acarreta um prejuízo à capacidade de elaborar conflitos.

Em entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS), ele afirma:

— As crianças estão mais expostas à melancolia já que não têm como reparar aquilo que as faz sofrer.


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Na entrevista, ele afirma que atualmente os pais se esforçam demais para preencher o tempo livre dos filhos:

- Parece muito mais importante ter uma vida exitosa do que uma vida autêntica. Desde muito cedo, as crianças são incluídas em práticas que ocupam o seu tempo, sem que isso implique uma 'temporalização'. Quando o tempo não está 'ocupado', elas se sentem vazias e se aborrecem. Pedem para ser estimuladas. Na tradição ocidental, o tédio e o aborrecimento não representaram apenas um tempo perdido, mas também uma passagem para a lucidez e a criação. A brincadeira, antes de ser uma atividade, é uma ação que a criança inventa repetidas vezes. A brincadeira é o modo como a criança se inclui em um tempo.  

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Sobre as características da tristeza na infância, ele ressalta:

- Nas crianças, a possibilidade de perda é muito mais angustiante. Um adulto já está preparado para fazer uma relação entre o que se perde e o que permanece, através do luto, mas a criança costuma dramatizar essas perdas como absolutas. A maneira como os adultos devem lidar com a tristeza das crianças é no sentido de reduzir o sentimento de culpa, permitindo que a brincadeira seja uma via de exploração das fantasias que as afligem. Esse território intermediário oferecido pela ficção permite que a criança compartilhe com o outro sem ter medo de represálias. O mais importante na vida de uma criança é ter com quem brincar.

Leia a entrevista completa.